Chocaram de maneira global as imagens de imigrantes deportados aos seus países de origem, pelo governo dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, causaram revolta as cenas mostrando o embarque e desembarque de patrícios, mãos e pés algemados, além do uso de correntes durante o voo. As imagens deprimentes de dezenas de imigrantes humilhados e forçados a deixar de uma hora para outra o meio de vida e o solo norte-americano fazem lembrar, de certo modo, as narrativas sobre os sentenciados a remar acorrentados nas galés de antigos povos escravistas.
A expulsão de imigrantes ditos ilegais naquelas terras tornou-se mais severa depois da posse de um brutamonte recém-eleito e reconduzido à Casa Branca, e que volta ao trono ainda mais contaminado pelo ódio, desejo de vingança, xenofobia escorrendo pelos poros e rugindo feito uma fera apavorante.
O homem, sabemos, foi sempre um bicho nômade. A própria história mundial é uma longa história de migrações. Começa pelas primitivas correntes migratórias dos primeiros grupos humanos que, há cerca de duas centenas de milhares de anos, deixaram a África para povoar o resto do mundo, inclusive, o território onde viriam a ser os Estados Unidos.
E desde então o homem nunca mais parou de mudar de um lugar para outro. No Brasil, as migrações internas são um fenômeno da maior nitidez na nossa história, em especial e em diversos períodos, as migrações de nordestinos rumo ao sudeste do país, em busca de trabalho e dias melhores — mesma condição que impulsiona o êxodo de brasileiros de diversos estados para o exterior.
Acontece que o Tio Sam não tolera “sobrinhos” que não sejam genuinamente de sangue ianque. No dicionário dele não se encontram os termos semelhante, próximo e irmão. O que há mesmo, lá entre eles, é repugnância, nojo, ojeriza a estrangeiros, mesmo que em seu território desembarquem para derramar seu suor e oferecer mão de obra em diversos setores de serviço, inclusive, na construção de moradias para classes nativas que se envergonham de pegar no pesado.
Impostas as mais rigorosas restrições para o imigrante legalizar sua permanência, o eldorado do “sonho americano”, para o forasteiro, transforma-se então no mais terrível pesadelo. Nesse caso, nada mais resta, como única saída, do que pegar carona nas diásporas do século vinte e um, submeter-se ao jugo brutal da polícia de imigração norte-americana, e retornar para casa, humilhados, acorrentados, de pés e mãos atados, expulsos de uma pátria que se ufana de ostentar um monumento à liberdade!
2 Comentários
Espetacular, como sempre, caro cronista!
Como sempre responsabilidade no que faz. E é o que devemos ter. Seriedade em tudo q vamos fazer. Parabéns.