Na crônica que este descompromissado escriba assina toda sexta-feira, meto o bedelho hoje em um assunto da maior visibilidade em nossos dias: a chamada Inteligência Artificial. Antes de qualquer coisa, itero e reitero que sou um remanescente ainda da era analógica, e não faz tanto tempo, eu deveria, neste momento, estar martelando estas linhas numa simpática Olivetti ou Remington, movida por dedos e molas, alimentada por fita de tinta de duas cores, apta para imprimir na folha de papel em branco o que nos pode sair da cachola.
Mas, bem haja, logrei emergir do século passado e mergulhar no século presente, que este ano completa já um quarto de sua existência. De tal forma que, a exemplo geral, vejo-me hoje, num processo sem volta, inserido na era da computação e toda a sua parafernália.
E quando se fala em termos de elevada modernidade, saltam à vista, de imediato, duas palavrinhas mágicas: Inteligência Artificial. E nossa mente logo se volta para os avanços das maravilhas tecnológicas do século vinte e um, como se vivêssemos hoje em um outro mundo. De certa forma faz sentido pensar assim. Porém, indagando à própria IA quando ela surgiu, a resposta é surpreendente e um tanto frustrante, porque descobrimos que a nova e impressionante tecnologia não é tão nova assim.
— Quando você surgiu, Inteligência Artificial? — pergunto. A resposta:
— O termo Inteligência Artificial (IA) foi proposto em 1956, durante uma conferência na Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos. No entanto, as bases para a IA foram criadas anteriormente, em 1943, quando Warren McCulloch e Walter Pitts criaram o primeiro modelo computacional para redes neurais.
E remete ainda a um certo John McCarthy, nascido em 1927, coautor do documento que cunhou o termo Inteligência Artificial (IA).
Alívio. Ela é muito mais velha do que eu, a título de referência. Levando em conta, pois, que a IA levou pelo menos oito décadas engatinhando e só agora ensaia seus primeiros passos, ela chega, a meu ver, a perder boa parte dos seus aparentes encantos. (Deve-se considerar, todavia, que isso representa ínfima porcentagem diante dos milhares de milênios que a inteligência natural humana, à custa da evolução defendida por Darwin, levou para chegar ao estágio atual, desde o homem das cavernas aos sapiens.)
Não resta a menor dúvida, entretanto, que a Inteligência Artificial é um dos recursos mais fantásticos forjados pela mente humana. Eu a rebatizaria de Inteligência Auxiliar, aproveitando, inclusive, a mesma sigla IA, levando em conta que, quando reprovamos qualquer coisa meio dissimulada, fingida ou fictícia, somos forçados a dizer: “Isso soa meio artificial”. No caso, dispomos efetivamente, diante de nós, de uma ferramenta acessória e eficientemente auxiliar nas mais diversificadas atividades humanas.
Mas antes de mais nada, o que nos pode preocupar é o uso duplo ou múltiplo de tudo quanto o homem, comprovadamente ao longo dos séculos, tem conseguido inventar. Na segunda metade do século dezenove, o sueco Alfred Nobel inventou a dinamite, favorecendo como nunca o árduo trabalho dos mineradores. Não demorou, o explosivo transformou-se em arma mortífera. Um compatriota nosso, o brasileiro Santos Dumont realizou de maneira heroica o sonho de Ícaro, mas não demorou para o avião ser empregado em larga escala nas guerras, lançando bombas assassinas. E por aí caminha a humanidade e suas criações tecnológicas. Até uma simples faca, nas mãos do cozinheiro, é um instrumento da mais indispensável utilidade. Já nas mãos dum assassino é uma ferramenta mortal.
Nessa linha de pensamento, rezemos para que a Inteligência Artificial, por sua vez e a exemplo de tantas outras invenções humanas, não descambe para a banalidade perniciosa e torne-se, no dia a dia, praticada na versão mais ignóbil de Ignorância Artificial, preservando – e desabonando – a mesma sigla em português (IA).
2 Comentários
SEM PALAVRAS. SENSACIONAL.👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
Grato, caro leitor Dr. Pedro!