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A terra estava enxuta. O sol não baixava a sua guarda. O sertanejo, desconfiado, olhava o céu e não via o menor sinal de que o tempo ia mudar de cara. Olhava a terra e também não encontrava indícios de mudança do clima. Entretanto, uma esperança lhe batia no peito: o dia de São José. Pois não há um só camponês cearense que deixe de esperar confiante por chuvas na data em que se festeja o padroeiro do estado do Ceará. 19 de março é a data magna do inverno no sertão cearense. E se alguma vez a data passou em branca nuvem, deve-se ao fato de que a seca não respeita ninguém. Nem mesmo um santo!
Porém, neste 2023, quando até já se falava numa seca iminente, São José, de uma hora para outra, teve uma vez mais força suficiente para reverter o quadro, e haja chover em todas as regiões do estado, em particular, no nosso Sertão Central, que vem sendo banhado pelas chuvas desde uma semana antes do dia consagrado ao santo operário, nascido em Nazaré, casado com Maria e pai putativo de um menino.
Embora nascido muito longe daqui, São José, ao longo do tempo e da tradição, tornou-se tão cearense e tão sertanejo como qualquer outro conterrâneo nosso. É o patrono do estado e orago de um sem-número de capelas por todo o interior. Seu nome está ligado a um bom inverno e a uma boa safra de milho e feijão. Embora se saiba que esse período coincide com o primeiro equinócio do ano, cujas condições climáticas tornam mais favoráveis a presença de chuvas para nós, fazemos questão de atribuir a São José a competência por mandar chuvas para nosso chão.
Nos anos mais renitentes, quando a chuva teima em não vir, há mesmo um costume entre a população rural, que é roubar uma imagem de São José em alguma casa da vizinhança, forçando com esse ato ilícito, mas perdoável, que o padroeiro do inverno intervenha de qualquer maneira e faça chover. Como se vê, o São José bíblico, distinguido em várias partes do mundo, é bem diferente do São José cearense, sertanejo, e como tal, contagiado organicamente pela riqueza do nosso folclore, costumes e tradições. Tão cearense, que a representação artística mostra São José ao lado de Maria e o menino escanchados num jumento.
Pedro Paulo Paulino
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