O SERTÃO ESTÁ RENASCENDO
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Carlos Silva/Arquivo |
Ouvir o trovão no mês de janeiro, gemendo na concha acústica celeste, é a melodia mais encantadora e festiva para o sertanejo. São notas musicais promissoras, que a um só tempo evocam também as mais gratas e antigas lembranças.
Bastaram as primeiras gotas caídas do céu, recentemente, para a caatinga começar a tingir-se de verde, realçando o poder e a resistência da terra. A flora ressuscita dos longos dias calcinada pela soalheira. Como fênix, a mata desabrocha, trajando a vestimenta cor de esmeralda. De cada planta nativa despontam folhas novas, numa explosão de vida por todo canto. A catingueira desperta da hibernação, e com ela renascem também o marmeleiro, a jurema, o xiquexique, o mandacaru… num frenesi de energia vegetal. O perfume da fauna nativa e o cheiro da terra molhada espalham-se por todo canto, onde quer se pise.
Pouco a pouco, o Sertão volta a viver seus dias de opulência e de glória. A revitalização contagia toda a natureza, que canta pela voz dos passarinhos, de dia, e dos sapos, de noite. As borboletas enfeitam os ares. O sertão se alegra no embalo do vento nas tardes prazerosas; e se rejubila no coração do homem sertanejo. Da terra ainda há pouco seca, emana agora o aroma de vida em flor.
O chão, dia a dia, vai-se cobrindo de verde, escondendo as cicatrizes deixadas pelos açoites do sol. O tapete de babugem recobre o solo, como para receber de modo solene a presença ilustre de mais chuvas. O panorama todo é de festa e de esperança. Esperança de fartura, de água fresca correndo nas grotas e riachos, cantando nos telhados, descendo pelas artérias dos rios, para empanzinar barreiros e açudes.
Por trás de nuvens gordas e escuras, o Sol ofusca-se, como um rei vencido. E, por gratidão, damos boas-vindas às chuvas! Que trazem recordações. Lembranças mágicas de infância rolando nos terreiros, de cambulhada com a correnteza alegre das grotas… Diante de tão repentina transformação, podemos reafirmar que, por tudo que ela traz de bom, a chuva é o mais competente governo na vida de nós cearenses.
Pedro Paulo Paulino