© Acervo Pessoal |
Sábado passado, 13 de maio, fez 28 anos da morte do professor canindeense Laurismundo Marreiro. Estudantes secundaristas dos anos de 1980 encontraram no Professor Laurismundo um ponto de referência especial. Mestre em língua inglesa e professor de educação física, ele era, além disso, incentivador incansável da cultura, das artes e dos esportes. Em torno de sua inteligência, convergiu um grupo de jovens com sede de leitura, literatura, educação e conhecimentos.
Era sempre com ansiedade que, em sala de aula, esperávamos a vez do Láuris ou o “Teacher”, como carinhosamente o chamávamos. Com frequência, a disciplina propriamente dita cedia lugar a assuntos palpitantes do momento: da política à religião, do esporte à cultura, da leitura a um fato marcante, temas sempre examinados pelo ponto de vista original do “Velhote Sapeca” – outro distintivo familiar e cordial do nosso admirável guru.
De formação intelectual abrangente, poliglota, lido e viajado, sua visão de mundo nos empolgou, visto que sua opinião, acerca de tudo, era fermentada, frequentemente polêmica e dosada de uma carga de humor própria dos espíritos incomuns. Não demorou, para que o rádio local também o absorvesse. E tornou-se sucesso de audiência o debate do meio-dia, em uma das emissoras da cidade, com a participação do Professor Laurismundo, esperado ansiosamente pelos ouvintes.
Em determinada campanha política, lançou-se candidato à Câmara, com o slogan: “Vereador sendo honesto, não tem prefeito ladrão”. A frase, cheia de verdade e corretamente metrificada, virou mote e folheto de cordel de autoria dele, que se reconhecia poeta bissexto. Escreveu também sonetos e crônicas inéditos até hoje. Logicamente, não logrou êxito na disputa eleitoral, confinada eternamente num território de preferências políticas contrariadas e de cartas marcadas.
Falando inglês fluente, com sobejos para o alemão, italiano e francês, era corriqueiro avistar o Professor Laurismundo cercado de turistas e pesquisadores estrangeiros que quase sempre visitam Canindé e com os quais se comunicava no respectivo idioma. Tornou-se também legendária sua campanha pessoal e sistemática contra o tabagismo.
Apaixonado por fotografia, atividades esportivas, leitura, línguas, atualidades e avanços do mundo moderno, nosso mestre, de espírito sempre jovem, não alcançou a era digital. Por isso, e por mais que force minha imaginação, não concebo ideia clara de como seria o comportamento dele na comunicação e no debate virtual dos dias hodiernos. Em todo caso, não tenho dúvida, seria eletrizante.
Na foto que ilustra esta crônica, vemos o Professor Laurismundo em sua mais autêntica performance física, recostado ao seu jipe Gurgel, apelidado de “Jaspion”. Era o veículo de passeio com a família e de incursão a eventos culturais, transportando a turma de discípulos, hoje quase todos cinquentões, que, como eu, carregam na memória e no coração a leveza da saudade do “Velhote Sapeca” – e seu tempo.
PPP