© Divulgação/Canva |
Em um portal de notícias, leio: “Mais de 50% dos brasileiros pretende presentear a mãe”. É isso mesmo o que, em suma, representa o Dia das Mães: uma data expressivamente comercial. Pelo menos com um mês de antecedência, o olho guloso do comércio já se volta para o segundo domingo de maio, anunciando ofertas”, “promoções”, visando ao lucro em torno dessa data. Não é o caso de não concordar que as mães são mais do que merecedoras de um dia do ano marcado no calendário. Claro! Mas, é inegável, a comemoração descamba sempre para o consumismo, o aquecimento do comércio e da economia, expectativa de vendas, faturamento e outros termos técnicos que tanto divergem de expressões ternas a exemplo de coração de mãe, amor de mãe, calor de mãe, cheiro de mãe.
Eu, está evidente, não tenho cacife algum para querer infringir a tradição e o costume da compra de presentes para o Dia das Mães. Porém, particularmente, calculo que, nesse hábito de presentear a mãe numa efeméride anual, há qualquer coisa de forçado, de artificial e um tanto sem graça. Neste caso, enquadro-me, por uma ou outra razão, nos outros 50% que a pesquisa acima citada não especificou. Suponho que o filho devia ser ele mesmo, ou ela mesma, o presente. Abraço, meiguice, carinho, ternura são, na verdade, presentes muito combinatórios com mãe. Mais do que qualquer coisa material.
No entanto, se o filho ou filha desejam, de fato, materializar seu sentimento e sua emoção em forma de um objeto físico, eu daria a sugestão de que o faça em qualquer dia do ano, numa data aleatória, numa ocasião espontânea, e verá quão importante e valoroso se torna esse gesto, acima de tudo, por sua pura e alegre espontaneidade. E que esse presente seja um presente simples, meio lúdico, de puro valor sentimental. Nada de objetos ligados à rotina diária de trabalho da mãe. Não. Nada disso. Digamos que seja algo como um colar, uma pulseira ou mesmo um perfume ou, mais cativante ainda, um livro. Algo que fique na lembrança dela, mais pelo gesto de presentear do que mesmo pelo presente em si. Passeios também são presentes inesquecíveis, em qualquer dia do ano.
Seja criativo, fuja ao padrão. Porque todos os dias são dia das mães. O ano inteiro é delas, que não param de cuidar do lar, do marido, dos filhos, e muitas vezes dos filhos dos filhos e de todos enfim. De forma que, sem sequer se notar, em algum dia do ano – que não foi o Dia das Mães – acontece de ter sido este o verdadeiro dia das mães. É quando se chega para ela e a abraça, e a convida para conversar, e ouvi-la antes de tudo, e segurar suas mãos, e beijar seus cabelos brancos, fazer relembranças, sentir saudades, recordar de alguma travessura da nossa infância, quando ela nos repreendia e nos punia, e rir com ela dessas pequenas coisas abstratas, que não são compradas em loja alguma, mas estão em oferta constante no bazar do coração. E com isso, tenho certeza, ela ficará feliz. Porque enfim, como disse o poeta: “Todo o bem que a mãe goza é bem do filho”.
Hoje, e sempre, modéstia à parte, eu assim presentearia a minha mãe, se me dado fosse o privilégio de tê-la ainda neste mundo.
Pedro Paulo Paulino