O setor agrícola do Ceará enfrenta mais um ano desafiador, com uma significativa redução na estimativa de produção, conforme o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) divulgado pelo IBGE. Em 2024, o estado registrou uma queda de 11.809 toneladas em relação ao mês anterior, reafirmando seu lugar como um dos estados com pior desempenho agrícola no Brasil.
Enquanto estados como Goiás, Bahia e Santa Catarina expandem sua produção e ampliam sua participação no mercado nacional de grãos, o Ceará segue acumulando declínios. O desempenho negativo reflete não apenas as adversidades climáticas características da região, mas também a falta de políticas públicas eficazes para modernizar e fortalecer o setor.
A agricultura cearense continua altamente dependente de chuvas irregulares, sem investimentos adequados em tecnologias de irrigação ou modernização agrícola. Em contrapartida, estados como Mato Grosso e Paraná têm obtido sucesso por meio de estratégias que priorizam inovação, suporte técnico e políticas voltadas para a resiliência agrícola.
A crise no setor agrícola cearense reflete um problema mais amplo enfrentado pelo Nordeste, cuja participação na produção nacional de grãos caiu para 8,8%. A falta de ações coordenadas entre o governo estadual e federal tem contribuído para perpetuar as desigualdades regionais, enquanto o Centro-Oeste, que concentra quase 50% da produção nacional, continua a se destacar graças a políticas robustas e investimentos consistentes.
A retração na produção agrícola impacta diretamente a economia do Ceará, com efeitos que se estendem por toda a cadeia produtiva. Pequenos agricultores, comerciantes e a indústria alimentícia enfrentam perdas significativas, enquanto o aumento nos preços dos alimentos ameaça agravar a insegurança alimentar em um estado onde muitas famílias já vivem em situação de vulnerabilidade.
Além disso, a falta de diversificação agrícola e infraestrutura moderna impede que o Ceará aproveite plenamente seu potencial em culturas como algodão, milho e fruticultura, limitando as oportunidades de geração de emprego e renda.
Especialistas destacam que a ausência de um planejamento estratégico eficaz é um dos maiores entraves para o desenvolvimento agrícola do Ceará. Políticas de longo prazo que incentivem a modernização, diversificação e resiliência do setor ainda são inexistentes ou insuficientes. Além disso, medidas para mitigar os impactos das mudanças climáticas, como sistemas de irrigação eficientes e incentivos para adoção de tecnologias, são negligenciadas.
A falta de articulação entre as gestões estadual e federal também agrava a situação. Sem iniciativas coordenadas, os agricultores permanecem desprotegidos diante das adversidades climáticas e estruturais.
O futuro da agricultura cearense exige ações imediatas e coordenadas. Investimentos em infraestrutura de irrigação, ampliação do crédito rural, suporte técnico aos pequenos produtores e políticas de incentivo à modernização são essenciais para reverter o cenário atual. Além disso, é crucial que o setor seja tratado como uma prioridade estratégica para o desenvolvimento econômico e social do estado.