Era ali, na pequena banca de zinco, situada na praça principal da cidade, aonde íamos sedentos, como um israelita à Terra Prometida. Idos de 1980. A clientela do pequeno estabelecimento, em sua maioria, eram estudantes ginasiais, oriundos de uma época remota que sequer vislumbrava ainda o milagre da tecnologia digital dos dias de hoje.
A banca de jornal ou de revistas ou ambas as coisas era um ponto atrativo na praça Thomaz Barbosa, centro comercial da cidade de Canindé. Para nós, era pequeno mas precioso espaço de grandes artigos de venda. O jornal do dia, a revista da semana, a palavra cruzada, o fascículo ansiosamente aguardado, o gibi, o manual de concursos, a publicação mais recente, tudo exposto aos nossos olhos ávidos por leitura.
Era ali também o local de reencontro contumaz de amigos e colegas estudantes. Ponto do bate-papo cultural, empolgante. Em torno do balcão do estabelecimento, nos reuníamos, alegres, festivos e cheios de vida e de esperanças, com uma reverência respeitosa ao dono da banca, homem circunspecto e empático a um só tempo. Pitando sempre o seu cigarro, seu Sigefredo nos atendia com igual respeito. A banca, também a um só tempo, era lúdica e requintada. Havia o cliente passageiro do jornal, que comprava seu exemplar e simplesmente se ia. Em contraponto, havia o freguês que se demorava, examinando detidamente cada exemplar exposto nos nichos da banca.
O sábado era meu dia favorito de visitar a banca de revistas de seu Sigefredo. Num costume rotineiro, consegui formar coleção de fascículos semanais, que depois foram encadernados, tornando-se livros de verdade. O fascículo perdido era encomendado e recebido a contento. E tudo isto pago com minguados cruzeiros avaramente reservados para essa finalidade. Se não se dispunha da grana na hora, a coisa ia para o caderno dos “vales”. Tudo numa boa.
Rapazolas ainda quase imberbes, também frequentávamos a banca com o coração aos saltos para, tentando discretamente, comprar a Playboy, dissimulados, nessa ocasião, de leitores de revistas de interesse científico. Era também na banca que se compravam as fichas de telefone orelhão, quando tal equipamento era top. E tudo isso não faz tanto tempo, foi nos anos oitenta e noventa do século passado, palavra que soa realmente como coisa muito antiga. Mas não é. A saudade é que é antiga.
A mudança severa dos tempos, com seus esmartefones (prefiro escrever assim) e dos costumes está solapando a velha e boa banca de revistas da praça, em todas as cidades. Por isso, foi com surpreendente alegria que me deparei com essa fotografia antológica da antiga banca de revistas da praça Thomaz Barbosa, do meu Canindé. Olhando-a, viajei de volta no tempo, e mergulhei na profundidade dos meus dezessete anos, com a profunda e natural saudade que essa imagem é capaz de provocar.
Pedro Paulo Paulino