Autor: Pedro Paulo Paulino

Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.

Coincidindo hoje com o dia da semana, a Proclamação da República, em 1889, também aconteceu numa sexta-feira. A exemplo do chamado Grito da Independência, foi um acontecimento sem brilho, pegando carona nos estertores do também chamado Segundo Reinado, depois de longos 49 anos de mando do imperador Pedro Segundo. O Brasil imperial, cansado e sofrido, buscava abrir portas e janelas para respirar os ares de um novo tipo de governo, inaugurando a era republicana. Antes desse feito, qual um canto do cisne do velho império, ou como uma premonição dos acontecimentos que estavam por vir em breve, seis dias antes…

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Nada buliu mais com o mundo esta semana, do que as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A Terra pareceu girar mais em torno do Tio Sam do que em torno de si mesma. Um homem e uma mulher disputando entre si o trono do que muitos chamam de maior potência mundial. Como quem assiste a uma partida de futebol sem entender bem as regras do jogo, assim, ocasionalmente, assisti pelas mídias aos acalorados debates entre os dois candidatos e às opiniões de entendidos em política internacional. É de saltar aos olhos a grande diferença entre assuntos levantados na campanha presidencial…

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Neste sábado, dia dedicado aos mortos, vêm-me à lembrança aqueles que se foram e não deixaram túmulo. Isto vale tanto para os anônimos quanto para as celebridades. No primeiro grupo, existe uma vasta quantidade de pessoas, incluindo as vítimas de epidemias, de acidentes aéreos de grande proporção e os mortos nas guerras, por exemplo. No grupo das pessoas famosas, pelos menos dois grandes vultos foram enterrados não se sabe mesmo onde. De Camões, lê-se que: “Entre 1579 e 1581 grassa em Lisboa, mais uma vez, violenta peste. A morte sobrevém em quatro ou cinco dias. No meio do caos reinante,…

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Há 138 anos, em 25 de outubro de 1886, nasceu, no interior do Maranhão, um menino pobre, fraco, feio e que seis anos depois ficaria órfão de pai. Passaria então a ter somente a proteção materna, sendo obrigado a trabalhar desde tenra idade. Miritiba, sua terra natal, era um grão de areia perdido no mundo e longe da civilização. De lá, com a mãe, fixou residência em Parnaíba, onde pôde expandir melhor o seu espírito. Aprendiz de alfaiate, foi caixeiro e tipógrafo. Ave migratória, fez pouso em São Luís e Belém. A sede de saber e a literatura davam-lhe cócegas…

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Eu confesso, sem cerimônia alguma, a minha ignorância, nos dias de hoje, quando leio, nos portais de notícia, certas manchetes. Os portais a que me refiro são os jornais que morreram e reencarnaram em formato digital. E aqui abro um parêntese para lamentar: ah, velhos jornais de papel, que nostalgia sinto de quando os folheava e lia teu conteúdo dividido em colunas e retrancas, com tuas seções diárias e suplementos dominicais. Fecho parêntese. Voltando ao topo, reafirmo minha completa ignorância quando me deparo com manchetes cifradas em termos e expressões de outra língua que não a nossa “última flor do…

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Seis aninhos, corre para a avó e exclama: “Boboia, meu dente caiu, traz a cola”. E mostra na conchinha da mão um pequenito dente de leite que acabara de se desprender da gengiva, abrindo a primeira “janelinha” no sorriso mais puro deste mundo. O acontecido já era esperado, visto que a mãe havia explicado que dentes caem na infância. Ela então aguardou com expectativa a novidade, como se aguardasse uma nova boneca ou outro brinquedo. E quando aconteceu, ela teve a curiosa ideia de querer colar de volta o dente em seu lugar. Talvez por ter visto alguma vez alguém…

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Durante a alta estação da romaria em Canindé, no mês de outubro, há um clichê tão repetido, que é como se fosse um comando gravado no cérebro e acionado automaticamente. Só os nativos entendem. Trata-se do “depois da festa” – uma frase curta, mas de enorme efeito, que implicitamente e de caráter recíproco é acatada e compreendida por todos. Aquele compromisso, aquele projeto, aquela incumbência antes impreterível, aquela promessa de algo, ficam agora reservados para… depois da festa. O passeio fora da cidade, a compra de um objeto, o filme inédito, o encontro rotineiro que põe em dia a fofoca…

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Rubem Braga, mago da crônica brasileira, tem uma que se chama “Um pé de milho”, que aliás virou título de livro. Texto enxuto e saboroso como o próprio milho em todas as suas performances, da espiga cozida ou assada à pamonha. Palavras líricas com cheiro de milho verde e a magia de uma boneca de milho agarrada ao caule, os cabelos loiros atiçados ao vento. No meu caso, admirável Braga, permita-me falar qualquer coisa sobre um pé de algodão, tão misantropo quão seu pé de milho urbano. Avistei-o à beira do asfalto, sob o céu límpido e ensolarado de setembro,…

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Escrever nunca foi tão prático como hoje em dia, depois do advento da era digital. Eu disse prático, e não fácil, bem entendido. Pois escrever, de alguma forma, ainda é um desafio não rara vez angustiante para nossa cuca. No começo da década de noventa do século passado, quando a velha máquina de escrever ainda era a vedete das redações de jornal, Rachel de Queiroz, em crônica memorável, desabafa: “Ontem, num programa da TV, discutíamos entre escritores e jornalistas o drama do papel em branco na máquina e, diante dele, o pobre de nós, obrigado a espremer o juízo até…

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O lugar se chama Paudarcal. O nome vem de longe, quando ali reinava em abundância os pés de ipê, também conhecido como pau d’arco. Fica no interior do município de Madalena. Há naquela terra uma tradição arraigada e conservada por família durante mais de quatro décadas. A farinhada no mês de julho provoca o ajuntamento de muita gente que distribui entre si diversas tarefas. O agricultor Gerardo Muquila, nome de guerra de Gerardo Gomes da Silva, é quem capitaneia, a cada ano que passa, mais uma edição da farinhada em sua propriedade. Tradição telúrica que vem de seu pai. A…

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