© Pedro Paulo Paulino |
Por detrás da muralha do cemitério de Vila Campos, avista-se de longe um pé de pau-branco em plena floração sazonal. Esta é a época do ano em que essa espécie vegetal, típica da caatinga, veste-se com suas flores brancas, como uma cabeça encanecida pelo tempo. Em torno do campo-santo, ninguém o plantou. Nasceu ali espontaneamente, ou mais provavelmente, pelo trabalho de polinização de aves e também do vento, haja vista a proliferação de paus-brancos nas adjacências.
Majestoso e altaneiro, o pé de pau-branco enche de vida e alegria o lugar dos mortos, já de si tão triste. Dia e noite, ali está ele, pintado de verde e de branco, balançando sua copa ao sabor dos ventos. É lírico e imponente, a um só tempo. Defronte para um lugar onde tantos descansam “dessa longa vida”, o pau-branco do cemitério viceja: é um verdadeiro oásis de vida, abrigo e fonte de alimento de aves, beija-flores, borboletas e abelhas. Produz, afora tudo isso, a sombra benfazeja nos dias quentes.
Com suas raízes fincadas na terra que dá vida e também a devora, um único pau-branco representa a indubitável importância dos vegetais para a vida no planeta. Além de sua beleza ornamental, as árvores são máquinas de fabricar oxigênio para todos nós, humanos ou não. Não há mecanismo humano, mesmo no ápice da tecnologia, capaz de fabricar o gás indispensável à vida – oxigênio! –, palavra que se tornou tão forte em momentos tão dramáticos.
Do nascer ao pôr do sol, ali está ele, o pé de pau-branco, branco como a muralha do cemitério, mas alegre como as vidas que se foram; e com suas flores, brancas como uma bandeira da paz, acenando perante a possível ameaça da mão rude do homem. Ou, por outra, transmitindo em seu silêncio o recado de um antigo provérbio hindu: “A árvore não prova a doçura dos próprios frutos; o rio não bebe suas próprias ondas; as nuvens não despejam água sobre si mesmas. A força dos bons deve ser usada para benefício de todos”.
Pedro Paulo Paulino