Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, divulgados nesta segunda-feira (13), trouxeram à tona dados que expõem os desafios da educação no Brasil. Apesar do aumento na participação dos estudantes e do leve crescimento na média geral, apenas 12 candidatos conquistaram a nota máxima de 1.000 pontos na redação. Entre eles, apenas um é do Ceará, estado que, historicamente, investe em políticas públicas de destaque no setor educacional.
Com 3,18 milhões de participantes, o Enem 2024 manteve um cenário de baixo desempenho em competências essenciais como escrita. A média nacional da redação foi de 660 pontos, mostrando discreto avanço em relação aos 645 pontos do ano anterior, mas ainda insuficiente para reverter a crise estrutural no ensino básico.
O dado é alarmante, considerando que a redação é uma das partes mais valorizadas do exame, essencial para vagas no ensino superior e programas como Sisu, Prouni e Fies. Apesar disso, apenas 0,0004% dos participantes atingiram a nota perfeita, o que reflete falhas na formação de competências em leitura, interpretação e argumentação.
A distribuição dos candidatos nota mil também evidencia a desigualdade educacional entre as regiões. Os estados com estudantes de melhor desempenho, como São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, concentram parte das melhores escolas e maior acesso a recursos. O Ceará, com tradição em programas educacionais reconhecidos nacionalmente, teve um único representante, o que sugere a necessidade de mais esforços para superar barreiras estruturais e sociais.
Para Sayonara Lima, professora de redação e especialista em linguagens, o resultado expõe um problema sistêmico. “A redação é um termômetro da qualidade do ensino, porque exige não só domínio da escrita, mas também capacidade de argumentar com clareza. O desempenho reflete o quanto nossos estudantes ainda enfrentam desigualdade de oportunidades”, avalia.
O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou o aumento na participação de alunos do terceiro ano do Ensino Médio no Enem, passando de 58% em 2023 para 94% em 2024, atribuído ao programa Pé-de-Meia, que incentiva a inscrição ao exame com parcelas extras. Contudo, a ampliação do acesso ainda não resultou em avanços significativos nos indicadores de proficiência.
Além disso, embora programas como o prêmio de reconhecimento da educação básica prometam valorizar esforços locais, a realidade dos números evidencia que o país precisa de medidas mais incisivas.
Outro dado relevante é a dificuldade enfrentada por estudantes da rede pública. Dos 2.308 candidatos com notas entre 980 e 1.000 na redação, apenas 215 são oriundos de escolas públicas. A discrepância reforça a necessidade de mais investimentos em infraestrutura, formação de professores e políticas para reduzir desigualdades educacionais.
Apesar do crescimento na média geral do exame, que passou de 543 para 546 pontos, a melhora é tímida frente ao universo de milhões de estudantes. Mais de 645 mil participantes ficaram concentrados na faixa de 500 a 550 pontos, o que indica um domínio apenas mediano das competências avaliadas.
O desempenho no Enem 2024 reforça que a educação brasileira ainda carece de ações integradas e estruturantes. Para além de premiações ou incentivos pontuais, é urgente implementar políticas que promovam equidade, fortaleçam a base do ensino e preparem os estudantes para os desafios do futuro. Enquanto isso, o sonho de uma educação inclusiva e de qualidade para todos segue como um dos grandes desafios nacionais.