Os três personagens que emprestam seus importantes nomes às festas juninas brasileiras não são nossos patrícios. Todos eles nasceram muito longe daqui e em épocas muito distantes. Mas granjearam tanta simpatia e graça do povo brasileiro, em particular no Nordeste do país, que é mesmo como se fossem filhos desta terra.
O primeiro deles, Antonio de Lisboa e de Pádua, foi um europeu, contemporâneo de Francisco de Assis, e viveu, portanto, entre os séculos doze e treze, muito antes da chegada das caravelas portuguesas no Brasil. É para ele que se acende a primeira fogueira festiva de junho: quer no pátio da fazenda ou da humilde choça; quer defronte ao palácio da cidade ou da pequena casa de subúrbio. Tradição antiga ainda mantida pelos que, eu p. ex., fazem questão de preservá-la. Antonio entrou para o nosso folclore como o santo casamenteiro, aquele a quem recorrem, em última instância, os e as inquilinos do caritó. É também o santo buscador de objetos perdidos, através das preces que lhe fazem.
Em 23 de junho chameja a segunda fogueira comemorativa do mês, a de São João, por certo, o festejo mais convidativo da época. O santo batismal, envolvido num episódio bíblico antológico, sendo decepado a pedido de Herodes Antipas. E, por último, vem a fogueira nordestina em louvor a Pedro, o Apóstolo, também chamado Simão, da época de Cristo.
No nosso folclore e tradição nordestina, todos três perderam sua verdadeira identidade estrangeira, tornando-se populares aqui entre nós, reverenciados e amigos do povo que os festeja. É como se tivessem vivido aqui e compartilhado nossos costumes e modos de vida. Por isso, logradouros, fazendas, povoações, cidades e incontáveis pessoas receberam seus nomes em larga escala. Tornaram-se tão nordestinos quantos nós o somos. Até nos parece, na imaginação, deparar em alguma vereda, em alguma estrada de rodagem deste sertão imenso, com o vulto de um deles, ou todos três juntos, caminhando, sob o sol quente, com seus chapéus de palha, bornal a tiracolo, calçando alpargatas currulepe e conversando alegres. Ou mesmo sentados e comendo milho assado diante das fogueiras em suas homenagens, e tornando-se compadres de fogueira, e falando o nosso linguajar.
Dessa tradição e reverência, advieram as festas juninas, com suas características impressas na música, na dança, na culinária e em tantos outros costumes, hoje tão deturpados em sua essência, mas sem deixar de perder seu imperativo. De São Pedro, contam-se várias anedotas, que tanto ouvi na infância, e que sempre começavam assim: “Quando São Pedro andava com Jesus pelo mundo…” Histórias do povo, muitas vezes aproveitadas na Literatura de Cordel e cheias de uma graça e sentimentalismo sem par. Impossível não sentir o calor humano e emotivo quando ouvimos tais histórias da oralidade do povo, envolvendo um dos patriarcas da crendice popular.
Meu pai era Pedro. Eu sou Pedro. Tenho dois sobrinhos Pedro e, como patrono, Pedro, o Apóstolo. Salve, portanto, meu xará, e seu dia, 29 de junho!
1 comentário
Antonio Fernando de Azevedo Bullhões y Taveira, nosso santo casamento. Em anos idos dizia-se que festas Joaninas, em homenagem ao São João, decapitado a pedido de Herodiades. A partir do século XX, passaram a denominar de festa juninas, aproveitando a época da colheita do milho para fazerem muitas comidas saborosas derivadas desse vegetal cultivado pelos indígenas e, nós herdamos esses costumes.