O território da política, em qualquer canto do mundo, é sempre e sem dúvida um ambiente conflituoso, pontuado por rivalidades ácidas, debates e combates de opiniões. Campo minado em todos os sentidos. Até parece que a humanidade é classificada em duas categorias: a dos sapiens propriamente dita e a dos políticos. Esta última com características milenarmente próprias. De tal modo que, nas sinuosidades da política, tudo é praticamente possível de acontecer.
E certos acontecimentos, de tão incomuns e grotescos em muitos casos, acabam descambando inevitavelmente para o folclore e o anedotário.
Devido às suas circunstâncias próprias e pelo alcance de cada uma, convém distinguir, nas campanhas eleitorais, as de âmbito nacional: presidente e congressistas, estadual: governador e deputados, e municipal: prefeito e vereadores, cada uma, separadamente, com seu modo de ser e acontecer. E é justamente a última dessa trindade a mais fermentada, a mais carregada de personagens e cenas em que tudo é possível quando o assunto é chegar lá e ocupar o trono.
Um portal de notícia de Fortaleza divulgou esta semana um exemplo claro de manobras e meios idiossincráticos dos quais alguns políticos, para não dizer maioria, se valem, com o fito de desgastar a imagem do adversário e, por fina força, vencê-lo.
Dá-se o caso que, numa cidade interiorana do Ceará, na recente campanha eleitoral, ninguém mais que um ex-prefeito, morto já há alguns meses, voltou a este mundo por meio de uma rede social da internet e tornou-se um influencer de peso na campanha política de sua terra. (Influencer, até onde sei, é uma espécie de condutor de rebanhos que manda os seguidores fazerem o que ele mesmo não faz.)
Pois bem. Utilizando-se de seu perfil no Instagram, o influencer fantasma lançou críticas ferinas a uma certa postulante ao cargo de prefeita, enquanto manifestava seu apoio ao candidato de oposição, vencedor no final das contas.
O texto da mensagem, a ponto de fazer Camões estrebuchar no túmulo, em nada difere do teor de outras mensagens similares espalhadas por políticos em suas redes sociais, nos palanques, nas reuniões, na barbearia ou na cozinha dos eleitores, dando-lhes tapinhas nas costas.
Não se trata, evidentemente, de aparições do outro mundo nem de reencarnação virtual oportuna e temporária. É claro que alguém íntimo do falecido ficou de posse da conta dele no Instagram e a utilizou a seu bel-prazer durante a campanha por votos, objetivando ainda tirar uma casquinha do provável peso político do ex-prefeito. Algo que o próprio Maquiavel, se acaso revivesse, nem imaginaria fazer.
E quem assim fez, por certo está, involuntariamente, prestando um serviço de utilidade pública à classe dos políticos, advertindo-os que, mesmo mortos, nem assim têm o descanso eterno, merecido ou não.