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    Home » A CHUVA SALVADORA QUE NÃO VEIO

    A CHUVA SALVADORA QUE NÃO VEIO

    Pedro Paulo PaulinoPor Pedro Paulo Paulino13/08/2024Nenhum comentário4 minutos de leitura
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    © Pedro Paulo Paulino

    Dia desses, durante minha caminhada matinal, por uma estradinha de chão, isolada e cercada de um lado e outro pela caatinga ainda verde, encontrei um conterrâneo, homem do campo, calejado e traquejado na luta da roça. Antes de tudo, deixe-se bem claro que encontrar um camarada habitante do sertão e não frear o passo para trocar pelo menos um dedo de prosa, constitui um ato de ofensa, mesmo que se esteja cumprindo o exercício de uma caminhada regular. Também constitui semelhante ofensa quando se visita a casa de um sertanejo e recusa-se a xícara de café gentilmente servida.

    Pois bem. Em conversa com esse amigo, o assunto naturalmente descambou para o inverno. Contou-me ele que sua roça de milho, cerca de 50 litros de semente plantados, está agonizando a olhos vistos por falta de chuva. “Bastava uma chuva boa, que corresse água nas grotas, pra salvar a lavoura”, afirmou, melancólico, apontando o céu limpo e, embaixo, as folhas do marmeleiro já murchas e contorcidas. Nesta altura do campeonato, perguntei-lhe se ainda tem esperança que as chuvas voltem. Respondeu, lamentando, que não. Mas acrescentou, com um resto de fé: “Ninguém sabe das coisas lá de cima. Pode até ainda chover este ano, mas talvez não chegue mais com tempo de salvar a plantação”.

    A agricultura no semiárido foi sempre como uma espécie de jogo de azar. Obter êxito no trato com a terra parece demandar mais sorte do que qualquer outro fator. Com as primeiras chuvas, sempre em janeiro, o sertanejo anima-se, enterra no chão as sementes de feijão e milho, vê-las nascer e cuida da limpa do mato, uma, duas, três vezes. Combate o ataque de lagartas e também dos passarinhos, sócios indesejados. E permanece torcendo, na expectativa ansiosa de que não falte chuva nos momentos mais críticos do ciclo de desenvolvimento dos pés de feijão e de milho. E eis que no momento mais importante, quando os feijoeiros já estão vingando suas vagens, e quando o milharal está pendoando e espigando, eis que nessa fase mais crítica, o tempo bate fofo e as chuvas desaparecem…

    E quando as chuvas desaparecem por dias sucessivos, as esperanças do pequeno agricultor vão murchando, como os pés de milho e de feijão vão também murchando e amarelando por falta d’água. É uma tragédia secular, que se replica por anos a fio na maior parte do Nordeste. No ano em que as chuvas são bem distribuídas de janeiro a junho, é quando o lavrador do semiárido acerta na loteria e faz uma boa colheita. Uma questão de sorte e do acaso. Este ano, os aguaceiros de março e abril, que em muitos lugares causaram destruição e prejuízos, deram vez em maio a dias e mais dias de muito sol. O que sobrou de chuvas antes, faltou agora, comprometendo seriamente as lavouras de milho e feijão, nossas principais culturas.

    E talvez não haja maior tristeza para a alma de um pequeno agricultor do que ver sua lavoura agonizando dia a dia, os pendões do milho acenando para o céu, como que pedindo chuva, uma chuva apenas, forte, salvadora. As bonecas de milho, com seus fios dourados, murchas, magras, parecem crianças raquíticas. Olhando sua roça se perder, o lavrador sertanejo amarga a derrota do seu suor derramado no preparo da terra, ainda no verão do ano anterior. Depois os dias de planta e os subsequentes dias de cuidado intensivo da roça: a limpa de mato, chegando terra com a enxada e adubando cada pé de feijão, cada pé de milho, cuidando de cada um como se um filho fosse, um filho que, prestes a prosperar, morre. Morre, simplesmente, por falta da chuva salvadora que não veio.

    Pedro Paulo Paulino

    Pedro Paulo Paulino
    • Local na rede Internet

    Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.

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