O dia 15 de dezembro é dedicado ao jornaleiro. Essa profissão já foi varrida do mapa, visto que os jornais impressos estão com seus dias contados, com o advento das mídias digitais. Mas o jornaleiro deixou sua marca registrada na memória de muita gente. Foi motivo até de canções nas vozes de grandes cantores de outrora. Exemplo é a Canção do jornaleiro, sucesso de Wanderley Cardoso.
Na cidade de Canindé, ficou na história o jornaleiro conhecido como Boió. Seu nome verdadeiro e suas origens são uma incógnita. Mas com essa alcunha e com sua profissão, ele tornou-se conhecido das gerações dos anos sessenta e setenta do século passado. E muitos hoje em dia recordam a sua figura atarracada, de nariz meio grotesco, sobraçando seu sacolão com os jornais da época e também a revista O Cruzeiro.
Não era fácil manter a população da cidade daquele tempo atualizada com a informação. Para suprir essa demanda, Boió viajava diariamente a Fortaleza, de onde trazia as edições dos jornais diários. Viajava de ônibus, quando nem asfalto havia ligando a Capital aos sertões de Canindé. “Ele não só trazia os jornais, como trazia encomendas de muita gente, haja vista a confiabilidade que lhe tinham os canindeenses. E tinha passe livre.” Foi o que me disse o médico Pedro Gervásio Moreira Martins, momentos antes em que escrevi esta crônica.
O domingo, contudo, era uma exceção, o dia de folga do Boió. O Carnaval era também uma exceção anual. Da sexta à terça-feira de período momino, ninguém contasse com o jornaleiro Boió, que se transformava num dos maiores carnavalescos que o Canindé já viu.
Boió foi um condoreiro da informação. Talvez sequer chegasse a ler o conteúdo que ele diariamente transportava. O importante mesmo era abastecer a necessidade dos seus clientes em se atualizar com as notícias impressas nos jornais e revistas. Foi, acima de tudo, um voluntário do conhecimento. Um humano abnegado, bom e útil. Gostaria muito de tê-lo conhecido, de apertar sua mão borrada da tinta dos jornais que ele transportava.
Mas cheguei depois. E bem depois cresci ouvindo falar na trajetória do jornaleiro Boió. Soube que deixou duas filhas, Rita e Madalena. Ambas padeciam de distúrbios psicológicos. A par de ambas, deixou seu nome gravado na memória dos canindeenses daquele tempo. Pois há pessoas que desembarcam aqui, com o inigualável propósito de praticar o bem, de uma ou de outra forma. Boió cumpriu sua missão, levando a todos, dia a dia, na sua sublime humildade, o ingrediente indispensável da informação.
Pedro Paulo Paulino