A crônica de hoje resume-se a uma anedota que envolve um dos tipos populares mais humorísticos de que se tem notícia no folclore canindeense. Francisco Pereira do Nascimento é o nome verdadeiro dele. Bunaco, foi como ficou conhecido de todos os seus conterrâneos, de seu tempo e ainda hoje.
É o caso de que, numa campanha eleitoral em Canindé, certo candidato aproximou-se do Bunaco e o contratou para afixar cartazes na rua. De posse de uma pilha de cartazes e tubos de cola, Bunaco sai ilustrando paredes, postes, até esbarrar fatidicamente na porta de um boteco. Com a grana que recebera por adiantamento, ali mesmo ficou. Sem faltar, todavia, quem o alertasse: “Bunaco, vai pregar os cartazes do homem. Ele te pagou e tu fica é aqui bebendo”.
De repente, ele avista passando na rua, cabisbaixo e pachorrento, um jumento velho sem dono, do tipo andarilho e faminto. E tem uma ideia fenomenal e salvadora. Compra uma cuia de milho e bota para o gangão. Enquanto o bicho come, o espirituoso propagandista aplica-lhe um banho de cola e começa a pregar cartazes por todas as partes do jegue: cabeça, orelhas, espinhaço, barriga, pernas, do tronco para a ponta do rabo, de modo que o paciente animal ficou de todo adesivado.
Na manhã seguinte, o candidato, em sua peregrinação à cata de voto, surpreende-se na rua com o jegue exibindo seus cartazes. Fica indignado. Reencontra o Bunaco, ainda no mesmo boteco, e protesta:
– Bunaco, foi você quem pregou meus cartazes naquele jumento velho?!
Com irreprimível franqueza, Bunaco responde, justificando:
– Foi sim, doutô. E num se zangue não, que uma hora dessa o retrato e o ‘númuro’ do sinhô já foi visto por mêi mundo de gente, pois aquele jumento véi correge [percorre] o Canindé de riba abáxo todo santo dia, do nascente pro poente, do norte pro sul, sem parar. E tem mais uma coisa: de vez em quando ele dá um rincho, que é pro povo prestá atenção.