© Pedro Paulo Paulino |
Em todo esse período de convivência com os nativos, São Roque foi perdendo suas características francesas, para se tornar cidadão de Campos. Acostumou-se aos anos de seca como também aos anos de bom inverno. Tornou-se afeito aos pedidos simples de seus fiéis, à irreverência própria dos habitantes e, especialmente, à quietude do lugar. Em sua graça, muito conterrâneo já recebeu na pia o nome de Roque, muita promessa já foi feita e outras tantas pagas, muita festança boa já reuniu familiares e amigos, como promete este ano, após o silêncio provocado pela pandemia. Há missa para vaqueiros, novenário em noites claras de lua, encontros amistosos, leilão, relembranças e animação de sobra. No encerramento da festa, ocorre missa solene pela manhã, seguida da procissão com o andor do padroeiro pelo centro da Vila.
Quitadas as contas com o santo, é a vez da confraternização dos moradores e visitantes. O leilão tradicional reúne alegremente os sectários de São Roque, ao embalo de sanfona e pandeiro e arremates pitorescos de galinha assada e outras prendas doadas por populares. A festa é a data magna do lugar. Um momento único do ano, de reencontro dos residentes com familiares que moram fora. Instantes de recordações, de histórias várias, de relembranças dos entes queridos e saudosos, atores de um outro tempo. O dia de São Roque, normalmente, transcorre efusivo, abrilhantado pelo sol forte e agitado pelos ventos vibrantes que fazem as árvores baterem palmas e levantar poeira como em louvação.
Ouvem-se estampidos de fogos e o badalar constante do sino da capelinha, morada do santo, singela e garbosa a um só tempo, cujas torres, apontando para o céu azul, parecem dedos erguidos, em sinal positivo de que tudo por ali vai bem.
À noite, há o legendário forró. O arrasta-pé vai ao amanhecer do outro dia. Tradição conservada por gerações. Moços e velhos juntam-se na mesma atmosfera da noitada festiva. Depois de tudo, por dias seguidos, persistem nos campesinos os comentários sobre os bastidores do evento. E a pequena Vila Campos volta à sua adorável imutabilidade cotidiana.
Pedro Paulo Paulino