FUTEBOL ONDE NÃO HÁ FUTEBOL
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@LOC / Fifa World Cup 2022 |
Como todo bom brasileiro, eu também torço e tenho meu time preferido. Quando se trata de Copa do Mundo, naturalmente, torço pelo Brasil, consagrado país do futebol. Porém, nunca diria que sou um daqueles torcedores fervorosos, que briga pelo time, que veste a camisa, principalmente de uns tempos para cá, quando a camisa padrão da Seleção Canarinho tornou-se enxovalhada. Dizendo melhor, nesta altura do campeonato, jamais meus pés pisaram num estádio. Em todo caso, sou um torcedor.
Assim dito, eis que o futebol chega, novamente, ao seu momento apoteótico: a Copa do Mundo. Período em que o planeta terra parece girar não em torno do sol, mas em torno da bola dos jogadores. E é neste exato momento, que todas as atenções se voltam para um pequeno país lá do Oriente Médio, feito de deserto, mar e petróleo. Uma faixa de terra mais de setecentas vezes menor que o território brasileiro e com população quase equivalente à atual população da nossa capital cearense: menos de três milhões de habitantes. Um país que, todavia, se destaca no mapa global por uma particularidade: a riqueza.
O Catar nada em petróleo e gás natural, razão de sua imensa fortuna; vive banhado de ouro, tem os arranha-céus mais exóticos, altos e futuristas do mundo, o luxo maior que pode haver na terra e, para felicidade geral daquela nação, seus habitantes são quase isentos de impostos. Mas o Catar não tem afinidade com o futebol, essa febre que sempre atinge o máximo de sua temperatura entre brasileiros.
Nesse pequeno nicho dos Emirados Árabes, de regime totalitário, muçulmano e fundamentalista, de costumes e cultura diametralmente opostos aos do Ocidente, de corações frios como a areia do deserto à meia-noite, não há espaço para as emoções do futebol, tal qual como o adoramos aqui no Brasil.
O Catar pode ostentar lojas de ouro e joias por toda a parte, automóveis folheados a ouro, supermercados e hotéis de luxo flutuantes, sanitários incrustados de diamantes, bola de sorvete de quatro mil reais, palácios imponentes de 15 bilhões de reais, ilhas artificiais luxuosas, bolos de casamento de milhões de dólares, sapatos com saltos de ouro puro que custam milhões de reais! O Catar pode se mostrar em tudo, mas o Catar não é o país do futebol. Os cataris afortunados que pagam por uma simples despesa de restaurante a bagatela de 500 mil reais não podem, por outro lado, orgulhar-se de ser o país do futebol.
O futebol não assenta com o Catar. Que desalento, por exemplo, para o torcedor brasileiro no Catar! Aquele torcedor inflamado que vibra, que é moleque no bom sentido; aquela torcida bem regada a cerveja, se o consumo de tal produto nos estádios de lá é proibido? Como vai se comportar a torcida brasileira feminina, com seus trajes minimalistas, nos estádios e nas ruas, numa terra onde a sensualidade delas é trancada a sete chaves? (Por contradição, o Catar vai ter que engolir mulheres nos gramados, pela primeira vez, apitando jogos.) Continuando, nem aquela selfie para botar na rede social e guardar de lembrança é permitida em todo canto, no Catar, o país do proibido.
Tão contramão é a Copa no Catar, que o evento pulou inusitadamente do meio do ano para novembro. Enfim, uma nação rígida, engessada, onde até a imagem do belo arco-íris é mal interpretada. Um povo que foge da cruz, como o próprio diabo. Por isso, um jornalista e torcedor pernambucano, recentemente, foi hostilizado no Catar, ao exibir a bandeira do seu estado, que tem em seu design um arco-íris e uma cruz. Oxente! Em suma e em termos de comparação, Copa do Mundo sediada no Catar é algo como o resultado do cruzamento de zebra com camelo.
Pedro Paulo Paulino