A cidade de Canindé completa, neste dia, 176 anos. É a data magna do município, que teve sua emancipação promulgada em 29 de julho de 1846, durante o Segundo Reinado no Brasil, sob a coroa incipiente de Pedro II, que por esse tempo foi elevado ao trono através do chamado “Golpe da Maioridade”. A jovem pátria, pós-grito da independência, contava apenas 24 anos. Presidia a então província do Ceará um coronel de nome Inácio Correia de Vasconcelos. Foi nesse cenário que começou a despontar, nos ermos do sertão, a vila de Canindé, e depois a cidade, futuro centro de devoção religiosa.
Pelas crônicas da história do município, nota-se que o embrião do qual se originou a cidade de Canindé era formado por casas esparsas e arruados primitivos, dos quais restam hoje raros vestígios. A urbe engatinhava ainda. Mas aos poucos foi-se erguendo, ganhando corpo e caminhando para a sua maioridade.
A exemplo de todas as cidades situadas na região do semiárido nordestino, Canindé, no decorrer de sua história até os dias de hoje, já amargou a rudeza dos anos de seca, assim como já conviveu com a fartura nos anos de chuva generosa. Foi visitada pelas levas de flagelados durante as calamidades, como também se destacou produtiva, principalmente no auge da lavoura do algodão, o ouro branco que já foi a principal divisa econômica da agricultura cearense. No interior do município, prosperaram as fazendas, com seus casarões e homens que ficaram na história desta terra.
Entretanto, a prosperidade de Canindé, não há dúvida, reside num conteúdo imaterial que a tornou uma terra conhecida além-fronteiras. Toda a sua fortaleza foi-se revelando por meio de um valor abstrato, que continuadamente foi transformando esta terra no ponto convergente de um número incontável de visitantes, com o passar dos anos. A fé tornou-se o dínamo propulsor da vida desta cidade, sob todos os sentidos. Sobre o solo árido e de sol sempre inclemente, no meio do sertão agreste, ergueu-se, pois, a Meca dos devotos do Poverello de Assis.
As romarias ao Santuário de São Francisco de Canindé deram a esta cidade o epíteto auspicioso de Cidade da Fé. A basílica erigida para abrigar a imagem e o culto do Santo Seráfico transformou-se num eldorado para os milhares de almas que de todos os cantos vêm a Canindé, seja para quitar suas promessas, seja em busca de cura, seja em busca de esperança. Para nós nativos, acostumados com a visão rotineira do templo, tudo pode parecer um lugar-comum. Porém, não se calcula o tamanho da emoção de quem, vindo de longe, palmilhando léguas e léguas, se põe diante da basílica imponente, irradiando de suas torres altaneiras a melodia inconfundível do seu campanário, que teve durante muitos anos, como grande maestro, o mestre Getúlio Colares. E menos incalculável ainda deve ser a fantasia do fiel que sonha, algum dia, vir a Canindé e ver de perto o altar de São Francisco das Chagas.
Impossível aclamar nossa Canindé por outro viés. Romaria, fé e devoção. Uma trindade que norteia nossa cultura, costumes e tradições. Na música, na poesia e nas artes em geral praticadas nesta terra, tudo gravita em torno da devoção que projetou Canindé como um dos centros de religiosidade popular mais notáveis do Nordeste e de todo o Brasil. De Clóvis Pinto e Cruz Filho, aos artistas nativos contemporâneos, cantadores, emboladores, cordelistas, pintores, palpita sempre a inspiração provocada pela aura de religiosidade impregnada na sensibilidade dos canindeenses. Corações puramente bairristas, muitos dos quais já pararam de bater, deixando em nossa memória funda nostalgia.
Ao completar seus 176 anos de nascimento, Canindé é festejada neste dia como cidade próspera e acolhedora, cuja administração, em toda a sua história, e pela primeira e segunda vez sucessiva, está sob o comando de mãos femininas, recebendo o desvelo e o bom tratamento que esta cidade, seu povo e seus visitantes, verdadeiramente, merecem. Parabéns, Canindé!