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© Pedro Paulo Paulino |
Houve tempo em que a cena mais comum da Festa de São Francisco de Canindé eram os comboios de caminhões, no geral cobertos de lona e vindos dos mais distantes rincões trazendo romeiros. Hoje, esses caminhões já foram substituídos pelas frotas de ônibus modernos, servidos de ar-condicionado e outros itens de conforto. Também as caravanas de romeiros a pé, vestidos em seus hábitos marrons e empoeirados se dirigindo a esta cidade, estão sendo substituídas pelas estrondosas motorromarias que a cada ano se tornam mais concorridas. Foram as caminhadas em romaria que inspiraram Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga a fazerem a música Estrada de Canindé, que divulgou o nome desta cidade em todos os recantos do país.
Embora muitas das tradições da Festa de São Francisco tenham sido enterradas pelo avanço do tempo ou pela imprudência de algumas pessoas, ainda se observam alguns costumes que resistem. Ainda é possível, por exemplo, deparar com uma dupla típica de violeiros, daqueles que animavam as noites nas extintas barracas do rio. Da mesma forma os coquistas, o tocador de pé-de-bode, o aboiador, as bancas de jogos lúdicos, o teatro mambembe, os modestos circos montados nos arredores da cidade, os montões de abacaxi trazidos da Paraíba etc. Todavia, um ícone da Festa de São Francisco que resiste simpaticamente é a presença ininterrupta, por mais de meio século, do Centro de Diversões São Francisco. Dito assim, o nome da empresa é quase desconhecido de todo mundo. Mas quando se fala em Parque do Airton, atração de gerações de canindeenses e romeiros, aí todo mundo sabe do que se está falando. É um emblema da festa. Tão marcante é sua estada por aqui, que o dono do parque, nascido em Pentecoste, promulga-se canindeense, dado o largo círculo de amizade que construiu durante esse tempo. Cheio de bonomia e com seu jeitão camarada, o Airton já chega por aqui bem antes da festa, para instalar seu parque de diversões, outrora na Praça de N. S. das Dores, e agora na Praça Frei Aurélio, em frente ao Convento de Santo Antônio. É tão antiga a presença do parque, que remonta à época em que a cidade de Canindé era assistida pela energia elétrica da usina de General Sampaio. Anacrônico, mas sem perder a autenticidade, o Parque do Airton tem a magia de somar o moderno com o passado romântico, resultando numa equação de sucesso até agora. Emoções diversas passeiam por aquele labirinto de atrações lúdicas e simples, graças à simpatia que o centro de diversões conquistou do público canindeense em especial, tornando-se uma característica dos festejos na cidade. É provável que hoje, com os ruídos infernais da parafernália de sons eletrônicos, não se ouça mais aquele ingênuo anúncio da música oferecida na irradiadora do parque, para aquele ou aquela jovem de azul ou vermelho; mas a diversão ali, com certeza, ainda é garantida. E é tamanha a identificação do Airton com a sua empresa, que se gera até uma confusão de conceito: o parque é do Airton ou o Airton é do parque? Uma coisa e outra, enfim, dá na mesma. A chegada do Parque do Airton a Canindé é o primeiro aceno de que a festa de São Francisco também está chegando. E quando tudo termina, a coisa continua por aí afora, pois o parque é nômade. Porque o Airton é um comboieiro de sonhos… Pedro Paulo Paulino |