© Pedro Paulo Paulino |
Três de outubro é o apogeu dos festejos franciscanos na cidade de Canindé, plantada no coração do Sertão. Trata-se de uma das mais antigas e concorridas tradições religiosas do Nordeste brasileiro. Nesta data, a cidade vira um formigueiro humano, com a presença de milhares de pessoas que de diversas cidades e estados nordestinos chegam para visitar o Santuário de São Francisco, tido como o segundo maior depois do Santuário da cidade italiana de Assis, berço do santo que viveu nos primórdios do milênio passado.
Os dias três e quatro de outubro são, portanto, a culminância dos festejos, que duram dez dias, com seus novenários, procissões e celebrações. Uma aluvião de romeiros lota as ruas principais, numa correnteza humana constante, dia e noite. Espaços públicos são de repente ocupados por camelôs, com suas bancas de calçados, confecções, bijuterias, suvenires e outras miudezas. Peças de alumínio amontoadas em logradouros compartilham também, no centro da cidade, desse tipo de comércio transitório. Montanhas de abacaxis trazidos dos sertões da Paraíba são outro símbolo visual da festa. Artistas de rua ajudam a compor o quadro, exibindo-se em praças ou de forma ambulante.
Nesse período, a população flutuante chega a superar o número de moradores locais. No meio de milhares de rostos, torna-se mesmo difícil topar com um conhecido da fauna nativa. Residências viram pousos para as levas de romeiros. O calor humano soma-se à temperatura do clima, que no sol a pino beira os quarenta graus. O vozerio de pessoas e os ruídos da parafernália tecnológica concorrem com o som melancólico do sino repicado no alto das torres da basílica. Ao meio dia em ponto, de algum recanto da praça ouvem-se os dobrados da bandinha de música, em retreta festiva, ensejando um toque provinciano. Tudo isso, vale dizer, faz parte da festa.
Reina em todo esse conjunto de coisas um toque mágico, de metamorfose repentina e volátil. Marrom é a cor predominante nas vestimentas de pagadores de promessas, vestidos em seus hábitos imitativos do balandrau de São Francisco. Ganham relevo as romarias tradicionais, organizadas em grupos, inclusive, de peregrinos que varam léguas e léguas a pé, até chegar à Meca sagrada do nosso imenso sertão. Há, no meio da multidão de fiéis, aqueles que jamais faltaram a uma festa de São Francisco. Assim como há aqueles que, pela primeira vez, vêm a Canindé, realizando um sonho mítico.
A festa de São Francisco de Canindé foi sempre, em suma, feita de muita gente e folguedo. O evento, em tempos modernos, tem como grande aliado o milagre da tecnologia, conectando a cidade, por meio da internet, com o Brasil e o mundo em tempo real. Enquanto, na memória e no coração dos mais antigos, ferve aquela saudade de outros tempos, de outras festas, de pessoas que já se foram. Fato é que, em suas várias faces, a festa do Poverello, o santo pobre e irmão, é sempre uma grande festa. Viva, pois, Francisco!
Pedro Paulo Paulino
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