© Arquivo pessoal/Pedro Paulo Paulino |
Por uma dessas coincidências raras, depois de longo tempo voltei a pôr os pés no estabelecimento de ensino onde cursei o Primário. Fui convidado, certa feita, a participar de uma reunião que aconteceu exatamente nas dependências do prédio da antiga e extinta Escola de 1º Grau Monsenhor Tabosa, onde estudou um sem-número de canindeenses da minha época e de épocas anteriores.
Embora tenha passado por reformas invasivas na sua estrutura física, ao botar os pés no pórtico do velho e amigo educandário, senti-me como que teletransportado ao passado da minha meninice estudantil. Enquanto não começava a reunião, quedei-me ali por instantes, revendo no álbum da mente imagens antigas. Mergulhei no passado e respirei o ar de outros tempos, o cheiro dos livros escolares, das provas mimeografadas, ouvi o tinido da campainha anunciando a aula ou o recreio, e senti a presença dos antigos mestres – a maioria mulheres – e dos antigos colegas de sala de aula, distribuídos depois mundo afora pela mão do destino.
Recordei que havia, no interior do edifício, um pátio amplo a céu aberto, palco das diversões no recreio e da encenação de peças culturais. O pátio era cercado pelos quatro lados por salas de aula, mobiliadas com carteiras de madeira para dois ocupantes. Em frente, o birô do mestre e a lousa larga. Da janela da sala, o vozerio da rua ao lado misturava-se com frequência à voz explicativa do professor. Aproximei-me da porta por onde tantas vezes passei para assistir à aula. “Era esta sala… (Oh! se me lembro! e quanto!)”.
O pátio encontra-se agora coberto por uma estrutura apoiada em sólidas colunas. As salas, antes receptivas ao vento fresco, ora estão climatizadas e servem aos funcionários de uma entidade administrativa governamental. As pesadas portas de madeira deram lugar à leveza do vidro.
Ainda como em sonho, senti-me novamente envergando o uniforme estudantil, a calça azul de tergal e a camisa branca com o brasão da escola estampado no bolso. É supérfluo dizer que complementava o conjunto um par de sapatos do tipo Conga, também de tecido azul e borracha branca. Fechei os olhos e ali me vi chegando para a aula matinal, na escola dirigida com austeridade por D. Leda Pessoa e que tinha no elenco professores de nomeada no magistério canindeense. Rememorei os ensaios para o Sete de Setembro, sob o sol inclemente nas ruas, preparando os estudantes para o desfile na data magna nacional.
De tal modo, em instantes, percorri um território que, sem o auxílio mágico da imaginação e da memória, é para sempre sem volta. Repetindo o dizer do poeta: “Uma ilusão gemia em cada canto / Chorava em cada canto uma saudade.” Meu enlevo, no entanto, foi de súbito interrompido. A reunião começou, e com ela, emergi do mergulho doce no ontem à superfície acre do hoje.
Pedro Paulo Paulino