Ontem, o dia de Finados trouxe-me à lembrança um tipo folclórico que por muito tempo perambulou pelas ruas de Canindé: Sebastião Raposa, que além de exímio jogador de damas, destacou-se também como o personagem mais presente em cortejos fúnebres na cidade. Não importava quem fosse o morto, conhecido ou não, Sebastião Raposa lá estava, respeitosamente, no momento da despedida derradeira, oferecendo suas condolências. Cabelos longos e assanhados, barba e bigode maltratados, unhas sujas e crescidas, e sempre levando na mão uma sacola ordinária, por si mesmo ele já aparentava um fantasma vagando entre as sepulturas.
Ao tomar conhecimento da morte de alguém na cidade, ficava atento em obter detalhes sobre o horário do enterro para, infalivelmente, marcar sua presença. Talvez nem mais já tivesse soma dos enterros a que comparecera, durante toda sua existência. E ninguém jamais irá saber também que vocação era aquela sua de acompanhar enterros: se por convicta solidariedade, se por satisfação macabra, se por isto ou aquilo. Certo é que ele não perdia a oportunidade de acompanhar um séquito mortuário.
Quem sabe, talvez, Sebastião Raposa trazia em seus genes uma milenar predisposição para participar do ritual do sepultamento, tradição ainda hoje disputada pela espécie do Homo sapiens e os neandertais que nos precederam. Quem dos dois, primeiramente, inventou de velar e sepultar seus mortos? A disputa não tem fim.
Independente do questionamento científico, não há quase dúvida de que Sebastião Raposa foi o maior seguidor de enterros que Canindé já teve. A imagem que acompanha esta postagem mostra-o junto às catacumbas do cemitério São Miguel, onde hoje ele repousa. E não sei dizer se, no enterro do Sebastião Raposa havia tanta gente acompanhando. Mas isto pouco importa. O que importa mesmo é enfatizar de novo, que Sebastião Raposa foi o maior seguidor de enterros que Canindé já teve.