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© Divulgação/Canva |
É conhecida a frase do escritor Nelson Rodrigues: “Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia”. A meu ver, porém, a sentença pode, sem prejuízo, resumir-se ao primeiro período: “Deve-se ler pouco e reler muito”.
O ato de reler, evidentemente, inclui reler por completo um livro de autor da nossa predileção, ou apenas trechos, ou páginas salteadas, ou capítulos inteiros. Às vezes, relemos estritamente por necessidade ou fonte de pesquisa associada a outra leitura do momento ou mesmo a um trabalho intelectual. Porém, na maioria das vezes, relemos unicamente por impulso ou paixão por este ou aquele livro. O convite da releitura, neste caso, surge num ímpeto. E logo se vai à estante e de lá se tira o livro que se vai reler com satisfação redobrada e com passagens inteiras já memorizadas.
Se ler é viajar, reler é voltar ao mesmo lugar aonde já fomos, mas que não tiramos o máximo proveito do passeio. E então, da segunda ou mais vezes, conhecemos com mais profundidade e riqueza de detalhes aquele mesmo lugar. Apreciamos com mais atenção e gosto as suas características, esquadrinhando cada recanto, até satisfazer quase por completo a nossa curiosidade e o nosso contentamento. E se alguma coisa ainda ficou para ser visitada e absorvida, ali retornamos novamente.
Reler é também como revisitar um amigo de forte apreço ou um ente querido e com ele privar de uma conversa das mais agradáveis. Pois os mestres da prosa ou da poética têm o dom de deixar em seus escritos esse toque mágico do convite à releitura. Grandes romancistas e contistas, quiçá, são legítimos donos dessa proeza. E há de se convir ainda que determinadas leituras estão acondicionadas a certos momentos e circunstâncias. Pois a exemplo do perfume e da música, a leitura também tem seu não sei que de marcante em nossos sentimentos. Por isso, reler reacende sempre centelhas nos refolhos da memória, fazendo evocar lembranças em geral nostálgicas. Afinal de contas, ler é viajar no tempo. Assim sendo, deem-me permissão, que vou reler um conto de um escritor preferido.
Pedro Paulo Paulino