Coincidindo hoje com o dia da semana, a Proclamação da República, em 1889, também aconteceu numa sexta-feira. A exemplo do chamado Grito da Independência, foi um acontecimento sem brilho, pegando carona nos estertores do também chamado Segundo Reinado, depois de longos 49 anos de mando do imperador Pedro Segundo. O Brasil imperial, cansado e sofrido, buscava abrir portas e janelas para respirar os ares de um novo tipo de governo, inaugurando a era republicana.
Antes desse feito, qual um canto do cisne do velho império, ou como uma premonição dos acontecimentos que estavam por vir em breve, seis dias antes aconteceu uma festança que também entrou para a história. O Baile da Ilha Fiscal, ou conhecido como O Último Baile do Império, ocorreu em 09 de novembro de 1889. Era um sábado, e o rala-bucho se deu no centro histórico do Rio de Janeiro, então Capital do Império.
Foi uma festa de arromba para a época. Baile da elite achegada à Corte. Segundo nos conta Laurentino Gomes, em seu livro “1889”, o terceiro de uma trilogia, na festança “foram consumidos 3 mil pratos de sopa, cinquenta caixas de peixes grandes, oitocentas latas de lagosta, oitocentos quilos de camarões, cem latas de salmão, 3 mil latas de ervilhas, 1.200 latas de aspargos, quatrocentas diferentes saladas, oitocentas latas de trufas, 12 mil frituras, 3.500 peças de caça miúda, 1.500 costeletas de carneiro, 1.200 frangos, 250 galinhas, quinhentos perus, 64 faisões, oitenta patos, 23 cabritos, 25 cabeças de porco, 18 mil frutas, 1.200 pratos de doces, 20 mil sanduíches, 14 mil sorvetes, 50 mil quilos de gelo – tudo isso regado a 10 mil litros de cerveja, oitenta caixas de champanhe, vinte de vinho branco, 78 de vinho tinto, incluindo os prestigiados Bordeaux e Borgonha franceses, noventa vinhos de sobremesa, além de 26 de conhaques, vermutes e outros licores”. Putz!
O bota-fora da Família Real no Brasil foi mesmo de arrasar, para a época, para hoje em dia e para qualquer momento da história. O escritor Machado de Assis, nessa época com 50 anos e já um gênio literário reconhecido, é quem, por certo, deve ter melhor retratado, com sua ironia ácida, toda a hipocrisia em torno da República nascente. Pela boca do Cônego Vargas, em seu célebre conto “A sereníssima República”, Machado nos lembra: “Nem o tempo é operário que ceda a outro a lima ou o alvião; ele fará mais e melhor do que as teorias do papel, válidas no papel e mancas na prática”.