Nada buliu mais com o mundo esta semana, do que as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A Terra pareceu girar mais em torno do Tio Sam do que em torno de si mesma. Um homem e uma mulher disputando entre si o trono do que muitos chamam de maior potência mundial. Como quem assiste a uma partida de futebol sem entender bem as regras do jogo, assim, ocasionalmente, assisti pelas mídias aos acalorados debates entre os dois candidatos e às opiniões de entendidos em política internacional.
É de saltar aos olhos a grande diferença entre assuntos levantados na campanha presidencial norte-americana e o elenco de tópicos recorrentes nas campanhas presidenciais de países pobres, emergentes ou remediados, a exemplo do Brasil, onde quer que nos enquadremos em uma dessas três categorias.
Enquanto eles debatem temas como fechamento de fronteiras, guerras, Oriente Médio, expansão da economia, difusão de sua cultura e tema polêmico como aborto, de caráter ético, religioso e científico, por cá, o ramerrão de assuntos pisados e repisados é o mesmo: combate à miséria e à fome, melhor distribuição de renda, desafio à violência, desenvolvimento social, fome zero e, sempre, a promessa mais arrojada de todos os candidatos: enfrentamento à corrupção.
Praticamente despojados dos problemas críticos e crônicos das nações menos favorecidas, americanos do Norte demonstram sua preocupação maior em dar sustentabilidade ao seu status de nação plenipotenciária e superior nos mais diversos sentidos, como querem eles e como tal ideia é acatada por aí afora. Por isso, as fronteiras de seu imenso território foram assunto de peso na recente campanha presidencial, em particular para o patinho feio Donald eleito pela segunda vez, o qual, como um leão bravo, rugiu garantias de fechamento de fronteiras, preservando a soberania e supremacia do seu país, perante o resto do mundo.
Entre os milhões de estadunidenses, ao longo das eras, é massificado o mito da superioridade norte-americana. E tanto o mito se repetiu, que seu efeito na imaginação coletiva daquele povo tornou-se irreversível, gerando uma onda esmagadora de chauvinismo arraigado e sem cura. Dessa compleição de moral extremada, adveio inclusive o conceito doutrinário de “Destino Manifesto”, explicado por outro conceito fundamental enraizado naquela sociedade: a chamada “excepcionalidade americana”, a ideia de um povo superior aos outros, escolhido por Deus. E haja hipocrisia!
Até parecem pertencer a outra raça, que não a humana. Até parecerem querer ser a capital do planeta ou mesmo do Sistema Solar. Retraídos em seu nacionalismo exacerbado, fechados em suas fronteiras geográficas, o povo ianque vê com asco seus primos pobres da América Latina, de onde partem para lá, à socapa, levas de imigrantes, em busca do tão badalado “sonho americano”, utopia que para os estranhos a eles, deve se transformar, de fato, no mais terrível pesadelo.
2 Comentários
Mais uma excelente crônica, Pedro. Somos americanos do Sul e, quase sempre, presenciamos, sobretudo na Cultura, a tentativa de nos impor essa falsa superiodade norteamericana ou, o que é pior, a submissão por parte de alguns (muitos) sul-americanos.
Não somos MAIS nem MENOS do que nossos “irmãos do Norte”. Os estadunidenses deixaram um governo de direita por um de extrema direita. Saberemos, em breve, qual serão a “ressaca” e os respingos disso pelas bandas de cá.
Estou aplaudindo seu texto, enquanto isso.
Obrigado, poeta Arlando Marques!