O Brasil registrou um déficit de US$ 8,655 bilhões nas transações correntes em janeiro deste ano, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (23) pelo Banco Central (BC). O resultado representa um aumento significativo em relação ao mesmo mês de 2024, quando o saldo negativo foi de US$ 4,407 bilhões.
A piora no saldo das contas externas foi impulsionada principalmente pela queda no superávit comercial, que recuou US$ 4,3 bilhões devido ao aumento das importações. O déficit na conta de serviços também cresceu, atingindo US$ 4,552 bilhões, um avanço de quase 29% em comparação com o ano anterior. Por outro lado, a conta de renda primária, que engloba pagamentos de juros e remessas de lucros ao exterior, apresentou uma redução no déficit de US$ 1,1 bilhão.
Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro, o déficit em transações correntes somou US$ 65,442 bilhões, o que equivale a 3,02% do Produto Interno Bruto (PIB), acima do registrado no mês anterior (2,79% do PIB). Em comparação ao mesmo período encerrado em janeiro de 2024, a piora foi ainda mais expressiva, com um aumento de US$ 24,49 bilhões no déficit.
Apesar do resultado negativo, o Banco Central ressalta que o déficit externo tem sido financiado por capitais de longo prazo, principalmente por meio dos investimentos diretos no país (IDP), que seguem em níveis considerados adequados.
As exportações somaram US$ 25,371 bilhões em janeiro, apresentando uma queda de 5,9% na comparação anual, influenciada pela redução dos preços internacionais dos produtos brasileiros. Já as importações atingiram US$ 24,148 bilhões, o maior valor para meses de janeiro desde o início da série histórica, em 1995. O volume importado aumentou 19,5%, demonstrando um aquecimento da demanda interna.
Com esses resultados, o superávit comercial encolheu 78%, fechando o mês em US$ 1,223 bilhão, bem abaixo dos US$ 5,563 bilhões registrados no mesmo período do ano passado.
Na conta de serviços, os gastos com transporte cresceram 53,6%, chegando a US$ 1,442 bilhão, devido ao aumento da corrente de comércio e à alta nos preços dos fretes internacionais. O déficit na conta de propriedade intelectual, impulsionado por serviços de streaming, chegou a US$ 768 milhões, um aumento de 29,1%. Já os gastos com telecomunicações e serviços digitais cresceram 22%, somando US$ 998 milhões.
As despesas com viagens internacionais também aumentaram, resultando em um déficit de US$ 979 milhões, com brasileiros gastando US$ 1,784 bilhão no exterior, enquanto estrangeiros deixaram US$ 805 milhões no Brasil.
Os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 6,501 bilhões em janeiro, representando uma queda de 28,4% na comparação anual. O recuo é atribuído à menor entrada de novos investimentos estrangeiros e ao aumento do reinvestimento de lucros por empresas que já operam no Brasil.
No acumulado de 12 meses, o IDP totalizou US$ 68,491 bilhões, equivalente a 3,16% do PIB, um leve recuo em relação ao mês anterior. Apesar da queda, o Banco Central avalia que o financiamento do déficit externo continua sustentável, já que os investimentos diretos são considerados mais estáveis do que outras fontes de capital estrangeiro.
O estoque de reservas internacionais do Brasil fechou janeiro em US$ 328,303 bilhões, registrando uma leve redução de US$ 1,426 bilhão em relação ao mês anterior.
Já os investimentos estrangeiros no mercado financeiro doméstico tiveram saídas líquidas de US$ 715 milhões no mês, sendo que houve uma retirada de US$ 2,370 bilhões em títulos da dívida e uma entrada de US$ 1,655 bilhão em ações e fundos de investimento. Nos últimos 12 meses, o saldo acumulado de investimentos estrangeiros em carteira foi negativo em US$ 8,5 bilhões.
O Banco Central segue monitorando o cenário econômico global e os impactos da política monetária internacional sobre os fluxos de capitais para o Brasil.