Sem pretensão alguma de meter o bedelho em assuntos internacionais, o momento, entretanto, provoca-me a falar alguma coisa sobre guerra, em particular, a guerra entre Israel e o Hamas, deflagrada no começo de outubro, dizem que por um trecho de terra chamado Faixa de Gaza, estreito corredor onde se amontoam pelo menos dois milhões de seres humanos.
Informações dão conta de que o conflito sem trégua, até o momento, já fez milhares de vítimas, em sua maioria população civil, incluindo crianças. A disputa territorial, entre palestinos e israelenses, está na lista dos confrontos mais antigos, cíclicos e letais da história das guerras. Remonta aos tempos bíblicos.
Todavia, os combates do momento na mítica Terra Santa ou lugares sagrados chama nossa atenção para o drama de um contingente de pessoas até então domiciliadas ou aquelas simplesmente em visita nessas regiões distantes: os brasileiros.
Nas últimas duas semanas, os noticiários dia a dia se ocupam dando conta do vaivém de aviões da Força Área Brasileira cruzando o Atlântico e transportando de volta patrícios expulsos pela guerra de Israel. São pessoas de diversa condição, entre profissionais liberais, professores, estudantes, ativistas ou voluntários pró-Israel, militantes da causa sionista ou tão-somente turistas que, em circunstância infeliz, encontravam-se por aquelas bandas quando a guerra eclodiu.
Perante o clamor e os pedidos de socorro daquela gente, o governo brasileiro, virando as costas para ideologias, estendeu a mão oferendo todo o apoio logístico no sentido de repatriar centenas e centenas de brasileiros ameaçados pela conflagração. São homens e mulheres e crianças e famílias inteiras que voltam a pisar em solo nativo, trazendo histórias de terror, medo e risco iminente de vida em meio aos bombardeios e explosões militares.
O céu povoado de aviões de guerra. A terra estremecendo com a invasão de tanques mortíferos. Cada cabeça na mira de mísseis superpotentes. Hospitais destruídos. Apocalipse que a televisão e a internet mostram a cada instante. Relatos de desespero, em que minutos ou segundos são determinantes na tentativa de salvar a vida em um refúgio subterrâneo chamado bunker, ao som dos alarmes das sirenes.
A situação de brasileiros no meio daquela convulsão entre povos milenarmente inimigos é de tal modo pavorosa que, quero crer, é como se cada repatriado tenha a sensação do alívio de quem está deixando o inferno dantesco e voltando, salvo, à terra prometida. E ainda há muitos deles que não lograram esse êxito.
Não obstante os que conseguem voltar tenham consciência de que estão remigrando a um Brasil em grande parte dominado por facções, desde a metrópole à mais provinciana cidadezinha do interior, em todo caso não deixa de ser um bom negócio abandonar imediatamente a Terra Santa, nesses instantes de fúria, guerra, mortes e extermínios em massa, sem aceno algum de paz e sem que Deus, até agora, tenha outra vez usado uma Ester para salvar seu povo.