Em nosso cotidiano, o calendário é um instrumento fundamental. Quase tudo que vamos fazer depende, logicamente, do calendário. Somos servos do calendário. Das fases da Lua às efemérides, muita coisa está contida neles. De tão presente, útil e indispensável, nem nos damos conta, em nossa vida prática, de como surgiu o calendário ou os calendários, visto que há vários deles. E não é agora que vamos nos deter em pormenores acerca das origens calendáricas. Basta saber, no geral, que o surgimento dessa ferramenta estritamente humana remonta a séculos antes da Era Cristã, e que o mais recente sistema de divisão do tempo é o Calendário Gregoriano, adotado em quase todo o Ocidente a partir do final do século dezesseis. Todos os calendários são, dessa forma, muito vetustos, e, em sua elaboração, entram imperadores, papas e astrônomos. Todas essas tentativas foram no sentido de acompanhar a apressada corrida da Terra em torno do Sol.
A elaboração de calendários resultou, então, num desafio a muitos crânios matemáticos – desafio nunca vencido em sua totalidade. Em todos os cálculos possíveis, restou sempre um residual de horas, minutos, segundos e até dias, na completude de um ano, que é a unidade máxima da contagem do tempo. Assim, surgiu, no calendário gregoriano, a partir do calendário juliano, o chamado ano bissexto, que acrescenta, a cada quatro anos, um aos 28 dias comuns ao mês de fevereiro. A data tem suas peculiaridades, em especial, os nascidos nesse dia, que só fazem aniversário num ciclo quadrienal.
Pelo menos, do meu conhecimento, uma única pessoa faz anos no dia 29 de fevereiro. Eduardo Martins Campos é seu nome. Considerando as estatísticas, “A chance de ter a data como dia do aniversário é de 1 em 1.461, o que dificulta a probabilidade de conhecer alguém que nasceu neste dia”. Conheço, pois, Eduardo Campos, ou o Dudu da nossa intimidade, meu amigo e
conterrâneo canindeense.
Não se lhe sabe ao certo a idade. Porém, com um simples cálculo aritmético, podemos farejá-la, porque, sendo um aniversariante bissexto, digamos que é hoje, em teoria, um moço dos seus aproximadamente dezenove anos e que é contemporâneo de, pelo menos, dezenove Copas do Mundo, evento também sazonal que só acontece de quatro em quatro anos.
O certo é que, tendo esse meu amigo como parâmetro, suponho que é, acima de tudo, um charme ser aniversariante bissexto. O acontecimento é marcante, pois, em vez de cair no esquecimento, deve ser mais lembrado do que os aniversários comuns. Torna-se gravado na memória dos amigos e conhecidos, como um acontecimento distinto e peculiar. Ser aniversariante bissexto é algo econômico, sem pressa, cômodo e contrário à passagem célere do próprio tempo. Tais características, ao que parece, são naturalmente transferidas para a índole do aniversariante bissexto.
Eduardo Campos é assim: econômico com as palavras, bon vivant, descontraído, brincalhão, sem pressa e gozador da melhor qualidade. Discreto e captador das coisas no ar, características genuínas de um pisciano. Não dispensa nunca seu uísque, no point de sua preferência, onde a patota mais divertida está sempre ao seu redor, provocando-o e recebendo réplicas jocosas, na mais benfazeja molecagem, falando de tudo e de todos, especialmente de futebol, assunto predileto dele, que veste sempre a camisa do time do seu coração. Dotado do seu jeitão espontâneo de ser, convive numa boa com todos e de todas as idades, sem confrontos entre a sua geração e as de hoje. De tal modo, que ele comemora sempre, nesse clima recreativo e despretensioso, a cada quatro anos, o seu raro aniversário.
Por meio desta crônica semanal, deixo-lhe aqui meu abraço amigo de parabéns, com votos de que festeje doravante muitos natalícios nessa data singular.