© Divulgação/Reprodução Fotográfica: Ana Maria Lisbôa Mortari, Lavadeira III, 1977 – Ana Maria Lisbôa Mortari Óleo sobre tela |
Hoje em dia, com a modernidade tecnológica invadindo praticamente todos os campos da atividade humana, vai saindo de cena uma figura típica: a lavadeira. Refiro-me à lavadeira autêntica, que transportava na cabeça a trouxa de roupas, para geralmente lavá-las na beira do rio. Todas elas tinham o seu trabalho disputado nas pequenas cidades e, em especial, nas povoações rurais. Por isso recordo, com detalhes fidedignos, a lavadeira da minha terra.
Era uma senhora de estatura média e também de meia idade, sertaneja genuína, que adotou como profissão por toda sua vida, a tarefa de lavar roupas. Benquista por toda a vizinhança, a ela era confiada a responsabilidade de dar um trato nas roupas das famílias: da mais simples peça de vestir ao terno masculino de fino acabamento. Menino ainda, a caminho da escola, incontáveis vezes me deparei com D. Antônia lavadeira, em seu ofício: lavando roupas e mais roupas, ou, na linguagem do nosso povo, “batendo” roupa. Sobre uma pedra ampla, na margem do rio, ela estendia para secar as roupas já lavadas. Perto dali, outra quantidade de peças à espera de suas mãos, já de pele tão fina de tanto contato com a água e o sabão. É que estávamos ainda, nesse tempo, bem distantes das modernas máquinas elétricas de lavar, principalmente naquele trecho remoto do sertão. Absorta em sua atividade, D. Antônia sentia-se feliz do que fazia, pois enquanto trabalhava, cantarolava alguma canção e cumprimentava cheia de otimismo os passantes, que todos a conheciam, uns de vista, outros de amizade próxima. Era a amiga e também a comadre de um sem-número de donas de casa, sendo ela também, uma dona de casa e mãe. Além de lavadeira, acumulava ainda mais uma função: a de engomadeira. As mesmas roupas que ela limpava eram caprichosamente engomadas sob o calor do seu ferro de passar aquecido a brasa. Camisas e calças e saias e vestidos, tudo arrumado com carinho e dedicação. E quem quer que fosse a uma festa, missa ou um simples passeio no domingo, certamente ia vestido no traje que antes passara pelos cuidados de D. Antônia Lavadeira. Em sua atividade humilde, desempenhada com eficiência e o amor de quem gosta do que faz, D. Antônia lavadeira, no seu pequeno mundo, sentia-se ufana e digna de sua profissão, obedecendo, sem saber, ao dito de Aristóteles, segundo o qual: “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra”. Pedro Paulo Paulino |