Como se tivesse sido ontem, olho o calendário na parede e vejo que é primeiro de janeiro. Hoje, olho o mesmo calendário lá no seu canto e vejo que já estamos em agosto. Ao passo em que se apresenta o oitavo mês do ano, ainda parece-me respirar a atmosfera do Natal passado e ouvir os estampidos do Revéillon. A euforia do Carnaval também me parece que foi ontem. E assim, não é à toa que uma das interjeições mais repetidas por todos nós, com assaz frequência, é: como o tempo está passando rápido!
Empregamos o verbo no gerúndio, com a ilusão de que só no momento presente o tempo corre veloz. Porém, relativo como é em todos os sentidos, o tempo deve ser o mesmo de há dois mil anos, ou de há dez mil anos, com a mesma velocidade, rápido ou moroso, conforme as circunstâncias e nossos interesses individuais. Embora que, levando em conta a velocidade dos dois principais movimentos do planeta Terra, não admira a rapidez do tempo.
Estudiosos dos astros já há bastante tempo observaram o velocímetro da Terra e constataram que esta esfera azul circula o Sol a uma velocidade acima dos 100 mil quilômetros por hora, ou qualquer coisa em torno de 30 quilômetros por segundo. E em volta dela mesma, a Terra rodopia a mais de 1.600 quilômetros por hora, um verdadeiro supersônico movido pela inexorável força da gravidade.
De tal forma, que dias e anos sucedem-se, na nossa percepção, a uma velocidade que agora queremos acreditar que nunca foi assim. Mas deve ter sido assim sempre. O relativismo das coisas, por certo, causa-nos essa impressão de o tempo estar voando.
Acontece ainda que, entre o final do século passado e estas duas primeiras décadas do século presente, mergulhamos num mundo extremamente dinâmico, antes de tudo, pela velocidade da comunicação eletrônica. O quase infinito potencial de entretenimento oferecido pela internet absorve de tal maneira nossas atenções, que, em verdade, não nos damos conta da passagem do tempo. E quando prestamos atenção, já estamos no amanhecer seguinte, na semana, no mês e no ano seguintes, a milhares e milhares de quilômetros por hora.
O tempo já pode ter parecido mesmo congelado, em algum período da civilização ainda incipiente, distante do próprio desenvolvimento tecnológico. E tudo se passava com uma lentidão agonizante ou aprazível, conforme o observador. Por isso, de tão importante, soberano e eterno, o tempo foi considerado por sábios famosos, sob diversas formas de pensamento. Citemos, dentre tantos, apenas três, a começar por um muito antigo, Sêneca, que avisou: “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”. Já outro, relativamente contemporâneo, Albert Einstein, que se ocupou de corpo e alma em entender o tempo, lembra: “O tempo é uma ilusão. A única razão para o tempo existir é para que tudo não aconteça de uma vez”. E finalizemos com um patrício, o poeta Mário Quintana, que do alto do seu lirismo, sentencia: “A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo”.
2 Comentários
Caro cronista, é impossível ser indiferente ao seu texto, sempre atento aos detalhes e prendendo impecavelmente nossa atenção.
Grande abraço!
Obrigado, poeta Arlando Marques!