Por Pedro Paulo Paulino
Foto: Tapio Haaja |
O escritor maranhense Humberto de Campos (1886-1934), em uma das centenas de crônicas que escreveu, refere-se a um lugar chamado “O país das sombras felizes”. Na descrição do renomado cronista, tal paraíso encontra-se numa estrela remota no Universo, onde todos os seus habitantes, sem exceção, levam a existência mais feliz que poderia haver no mundo.
Agora, saindo do campo fértil da imaginação e pisando o solo firme da realidade, sabe-se que há, de fato, um lugar parecido com esse, onde de forma global todos os seus inquilinos são felizes. Esse lugar, conforme notícia divulgada nesta semana, é a distante Finlândia.
E não é esta a estreia da Finlândia no conceito de terra mais feliz para se viver. De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas, pela sétima vez consecutiva aquele país, situado no norte europeu, ocupa a primeira posição da lista que aponta os 20 primeiros países mais felizes. A
notícia auspiciosa foi publicada por diversos meios de comunicação, na quarta-feira passada, 20 de março, que o calendário assinala como Dia Internacional da Felicidade. Uma efeméride quase utópica!
O estudo, na verdade, abrange 143 nações, ficando o Afeganistão em último lugar. O Brasil aparece em 44º lugar. E vale comemorar, porque, segundo o relatório, “na comparação com o ranking divulgado no ano passado, o Brasil subiu cinco posições. Entre os países da América do Sul, os brasileiros só perdem para o Uruguai (26º) e o Chile (38º)”. No nosso caso, é possível entender nossa classificação no ranking, pois o documento leva em conta seis fatores-chave: apoio social, renda, saúde, liberdade, generosidade e ausência de corrupção. Desnecessário é esmiuçar cada item, pois é notório que em todos eles deixamos muito a desejar. O sexto fator-chave dessa lista criteriosa, por exemplo, aqui na pátria auriverde tornar-se-ia humanamente inalcançável.
Fato estranho é que, nessa classificação, o estudo divulgado neste ano aponta Portugal e China em degraus abaixo do Brasil. Em contraponto, Israel, envolvido em guerra há meses, e com seus milhares de mortos entre civis e militares, ocupa no ranking dos países mais felizes, o privilegiado destaque de quinta posição. Deve-se considerar, todavia, que nenhum dos países mais populosos do mundo aparece entre os 20 primeiros. Assim sendo, a Finlândia, com seus pouco mais de cinco milhões de viventes, é o país mais feliz do mundo.
Quanto a nós, patrícios, contentemo-nos, ao pé da letra, com o que nos diz o poeta Vicente de Carvalho, em versos antológicos sobre a felicidade, segundo os quais, ela “está sempre apenas onde a pomos, mas nunca a pomos onde nós estamos”.